Sábado, 11 de Junho de 2005
Durante a campanha eleitoral José Sócrates prometeu 150 mil postos de trabalho. Está trabalhando afincadamente para isso e a Imprensa Nacional também, atendendo à carrada de nomeações que já foram publicadas no Diário da República. Agora o Ministro das Finanças elevou-nos aos píncaros da alegria afirmando que não serão 150 mil, mas sim 260 mil. Milagre igual só a multiplicação dos peixes, a transformação da água em vinho nas bodas de Canã e até o milagre das rosas da nossa virtuosa rainha Santa Isabel. Se D.Dinis ficou embasbacado quando viu saltar, do regaço da sua piedosa consorte, perfumadas rosas em vez do pão que ela destinava aos pobrezinhos, imaginem só como vão ficar os portugueses quando lhes cairem em cima 260 mil empregos. Vão erguer as mãos ao Céu e clamar: "Milagre, milagre ... Senhor nós não mereciamos isto, não somos dignos de tanta fartura! "
Pensávamos que era só no Brasil e afinal aí estão eles, mas em grande porque o portuguesinho valente não deixa os seus créditos por mãos alheias e quando faz qualquer coisa esmera-se. No Brasil costumam andar nos trinta e tal, mas aqui não se faz a coisa por menos e aí vão 500 para os Brasucas se torcerem de inveja. O país é pequeno, mas as "obras" são sempre grandes. Se a notícia fosse simplesmente: "Umas centenas de jovens invadiram a prai etc. etc. .... " não seria tão preocupante, mas a precisão do número 500 é que causa perplexidade o que me leva a perguntar: " Por que razão se puseram a contar os energúmenos em vez de desatarem à chapada a eles?".É a tal mania que o português tem de perder tempo com questões irrelevantes em vez de meterem logo as mãos ao trabalho. Puseram-se a contá-los e depois faltou o tempo para o que era verdadeiramente importante - passar à acção. A mania que esta gente tem das estatísticas!
Terça-feira, 7 de Junho de 2005
Terminado o jogo Portugal/Eslováquia, um repórter nervoso e saltitante de microfone em punho deambulava pela sala (VIP penso eu) onde teve lugar a entrega, ao pequeno Martunis, de três pacotes (ao que parece uma consola e respectivos acessórios) que a criança, mais interessado na sua imagem que estaria a passar na televisão, não se dava ao trabalho de desembrulhar. Mas não é do pequeno Martunis que pretendo falar, por muito que me sensibilize a sua história, o drama do tsunami, a camisola da selecção nacional com o número do Rui Costa que a criança, infeliz e desidratada, envergava quando foi encontrada, gerando a onda de solidariedade à sua volta que todos conhecemos. Foi o tal repórter que despertou a minha atenção, o qual tentava afanosamente colher depoimentos das figuras conhecidas que desfilavam frente às câmaras e eis que surge o Primeiro Ministro de Timor Mari Bin Alkatiri. Logo o nosso afadigado repórter, todo ufano, com o ar pimpão de novo-rico deslumbrado com os estofos do seu BMW, dirige-se para ele e, pasme-se, pergunta qualquer coisa do género: " Então como se sentiu a assistir a um jogo neste estádio? ". E como não havia, por perto, ninguém de bom senso que mandasse calar o homem, ele prosseguiu: " Em Timor não têm estádios assim, quando é que Timor irá ter um estádio destes? ". Mari Alkatiri, expressão fechada e compreensivelmente carrancuda, limitou-se a responder, polida e dignamente: " Em Timor temos outras prioridades, um dia teremos um estádio, não tão grande como este, mas teremos um estádio ". Tenho a certeza que, tivesse ele a verbosidade vernácula de Alberto João Jardim e a resposta seria outra: " Vá à merda mais o seu estádio porque se vocês não fossem uns pelintras megalómanos não construíam estádios destes ". Sim, porque mesmo vivendo noutro continente, Mari Alkatiri sabe certamente que também em Portugal havia e há outras prioridades.
No entanto, o nosso repórter saltitante, sem se dar conta do ridículo da situação ainda acrescentou: " Claro, Timor terá um dia o seu estádio ". Não há pachorra
Domingo, 5 de Junho de 2005
Política, Moral, Inveja - Editorial do jornal Público de 4 de Junho, da autoria do seu director José Manuel Fernandes, leva-me a destacar 5 pontos que, segundo a minha interpretação, passo a resumir:
1. O Ministro das Finanças Campos e Cunha não cometeu nenhuma ilegalidade pelo facto de auferir uma pensão de aposentação cumulativamente com a remuneração de Ministro.
2. A pensão que lhe é paga pelos 6 anos como vice-governador do Banco de Portugal é um direito adquirido que não é pago pelos nossos impostos, mas pelos dividendos do fundo de pensões do referido Banco.
3. Não há imoralidade e quem o afirma embarca no populismo reinante dos que exigem sacrifícios àqueles que os pedem ao povo que, pelo facto de ser pobre, entende que os governantes também o devem ser.
4. Os Ministros ganham pouco o que torna meritório o sacrifício de alguém com o currículo e competência de Campos e Cunha, disponibilizando-se para gerir os nossos destinos e deixando para trás o sossego da vida universitária.
5. As críticas que a situação tem suscitado, em nome da moral, têm como objectivo explorar a mesquinhez e mediocridade nacional que fazem de nós um povo de invejosos.
Segundo a minha perspectiva, são estes os pontos fulcrais do Editorial de José Manuel Fernandes que não posso deixar de comentar:
Qualquer pessoa minimamente informada sabe que não existe ilegalidade, desde que haja suporte legal para determinadas situações, o que não impede que muita da legislação em vigor seja aberrante e imoral. Seria bom que quem legisla e autoriza tivesse o dom da infalibilidade, mas todos sabemos que isso não é possível. Felizmente as leis podem ser corrigidas e revogadas.
Relativamente ao facto de o Fundo de Pensões do Banco de Portugal não sair dos nossos impostos, peço perdão pela minha ignorância, talvez não saia directamente, mas gostaria de ser esclarecida se não se trata de verbas do Estado.
Ninguém pede aos Ministros que se afundem na miséria para que foi arrastada uma boa parte da população deste país pela sucessão de governantes incompetentes que nos têm (des)governado, mas, pelo menos, seria de bom tom que fossem os próprios a solidarizarem-se com o povo nos sacrifícios que pedem, solicitando que lhes fosse aplicada a norma prevista no Artº. 79º. do D.L. 498/72 que permite a manutenção da pensão de aposentação com a redução para uma terça parte da remuneração que competir pelo cargo desempenhado. Seria uma atitude que caía bem.
Pela parte que me toca, desde já agradeço o sacrifício que o Sr. Ministro das Finanças se prontificou a fazer pelo nosso futuro bem-estar e espero sinceramente que a sua competência seja suficiente para nos tirar do atoleiro em que estamos metidos.
Quanto à mesquinhez, mediocridade e inveja nacional, Sr. José Manuel Fernandes, estou em completo desacordo consigo. Ao longo de tantos anos de adversidade, maus-tratos, mentiras e falsas promessas, que povo se aguentaria de forma tão estóica, altruísta e paciente como o bom povo português? Só que a paciência também tem limites.
Sexta-feira, 3 de Junho de 2005
Ontem ouvi, mas não compreendi: o MF aufere uma reforma de 8000 euros (1 600 contos) pelo cargo que exerceu no Banco de Portugal durante 6 anos. Não compreendi porque, vivendo num país onde o Governo está tomando medidas para que a população morra antes de poder beneficiar da modesta reforma para a qual descontou uma vida inteira, me pareceu haver qualquer engano na notícia divulgada pelos orgãos de informação. Mas hoje fiquei esclarecida: O Sr. Ministro não está contribuindo para o défice porque a sua reforma milionária não onera a Caixa Geral de Aposentações nem a Segurança Social.Trata-se de um subsistema privado para o qual efectuou os seus descontos. Então fez-se luz no meu espírito - só poderá tratar-se de uma qualquer associação de beneficência que, por motivos que desconheço, premeia o trabalho dos portugueses ao fim de meia dúzia de anos de trabalho. Assim, gostaria de saber e peço a este bom povo que, tal como eu, tem a desdita de viver neste canto à beira-mar plantado que se junte a mim neste inocente pedido de esclarecimento: " Que subsistema privado ( se é privado não envolve portanto dinheiro do Estado, aquele dinheirinho que sai dos nossos impostos) é esse que atribui reformas tão generosas? ". Pode ser que, face à nova conjuntura que faz perder de vista as nossas reformas, ainda estejamos a tempo de canalizar os nossos descontos para o tal subsistema privado que tantas regalias tem para dar.