Domingo, 24 de Julho de 2005

A IMPORTÂNCIA DO NOME

Podem pensar que a questão do nome é irrelevante, mas não é. O nome condiciona as nossas vidas. Uma Kátia Vanessa ou um Virgolino nunca terão o mesmo sucesso que uma Beatriz ou um Ricardo. Por isso, os pais devem ter muito cuidado com os nomes que põem aos filhos para não os traumatizarem para o resto da vida.

Em tempos, por razões profissionais, conheci uma rapariga que tinha o apelido de Perna Alçada ( Perna por parte da mãe e Alçada por parte do pai ). Ora se estes pais tivessem um mínimo de bom senso, nunca teriam feito tal junção de nomes porque Perna Alçada não é nome que se ponha a ninguém e muito menos a uma rapariga. Quando ela se apresentou na minha frente, de mão estendida, e se identificou timidamente: " Idalina Perna Alçada " ( o nome Idalina é fictício ), fiz um esforço enorme para não desatar à gargalhada. Por isso imagino o que a desgraçada não terá sofrido a vida inteira, desde os bancos da escola, os outros garotos a achincalhá-la com aquela crueldadezinha infantil que rejeita tudo o que é diferente. Estou a imaginá-los no recreio, gritando: " Perna Alçada, Perna Alçada, Perna Alçada!!! ". Além da vontade, perfeitamente compreensível, de estrangular os pais e os colegas, a rapariga deve ter crescido sob o peso da humilhação cada vez que tinha de responder a uma chamada - na escola, nos exames, nas entrevistas para emprego e, especialmente, na sala de espera do ginecologista. Imagino a angústia, as tremuras e as sudações com a aproximação do momento inevitável em que a empregada do consultório a chamaria, com aquela voz estridente e autoritária que têm as empregadas dos consultórios: " D. Idalina Perna Alçada... ". O que pensariam as outras mulheres que aguardavam na sala de espera? Longe de imaginarem que alguém pudesse ter um nome daqueles, certamente pensariam: " Mas isto agora é assim, mandam-nos alçar a perna aos berros, já não há privacidade?! ".

O que acabo de escrever é apenas um preâmbulo para expor uma ideia que me ocorreu há já alguns dias - devíamos mudar o nome do país de Portugal para Lusitânia, a nossa ancestral Lusitânia. Talvez por derivar de Condado Portucalense, Portugal cheira a miserabilismo e insignificância, é como se tivéssemos ficado sempre com um pé no condado e o outro no país, nunca demos o salto da cozinha para a sala. Lusitânia é um nome mais nobre, mais harmonioso, mais arrojado. Não é nada de inédito, muitos países têm mudado de nome - Alto Volta mudou para Burkina Faso, Ceilão para Sri-Lanka, Birmânia para Myanmar, Rodésia para Zimbabwe, para citar só alguns. E por que razão é que mudaram? Para afastarem o estigma de país colonizado. Aí está o nosso drama, de Condado Portucalense passámos a Portugal, não foi uma mudança suficientemente radical, ficámos com o tal pé na cozinha. Além do mais, Lusitânia é um nome feminino o que irá fortalecer a nossa integração na Europa porque a esmagadora maioria dos países europeus têm nomes femininos - Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Grécia, Irlanda etc.etc.etc. não vale a pena enumerá-los todos. Portanto, a Lusitânia estaria mais próxima das suas parceiras e, acima de tudo, nós deixaríamos de ser portugueses, seríamos lusitanos. Que nome bonito! Além de bonito, não se prestaria a derivações irritantes e os brasileiros deixar-nos-iam em paz com as suas anedotas grotescas sobre " portugas ", enquanto que os ingleses já não poderiam dar-se ao luxo de escreverem nas paredes das casas dos emigrantes portugueses frases como " Pork and Cheese ", a qual é uma clara e provocatória alusão a " portuguese ". Também o ditado francês " Le portugais est toujours gai " é uma ostensiva afronta à sanidade mental dos portugueses. Que razão teria o português para estar sempre alegre? Quanto a mim, querem comparar-nos à hiena que ri sem saber de quê.

Ao mudar o nome do país, teríamos tudo a ganhar e é por essa razão que subscrevo já aqui uma petição em prol da Lusitânia e faço um apelo para que se juntem a mim e fundaremos a Associação dos Amigos da Lusitânia. Lusitanos unidos jamais serão vencidos e um dia chegará em que, no mapa da Europa, aquele pequeno rectângulo do lado esquerdo de quem sobe, ostentará orgulhosamente o seu novo nome - LUSITÂNIA.

P.S. Informo, desde já, que a partir desse dia o meu blog passará a chamar-se " O IRREVERENTE LUSITANO "
publicado por mmfmatos às 17:55
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Sexta-feira, 22 de Julho de 2005

O QUINTAL DO ZÉ TUGA

Está provado que os atentados de Londres foram perpetrados por extremistas islâmicos aparentemente integrados na sociedade britânica, um deles até era professor, amado pelas crianças e admirado pelos pais. Os explosivos eram fabricados paredes-meias com as casas dos vizinhos britânicos que nunca desconfiaram daqueles cidadãos de aspecto pacífico e educado, nascidos em solo inglês. Cruzavam-se com eles todos os dias e conhecendo-se a proverbial educação inglesa, não faltariam os "good morning sir ", " good afternoon sir, " how are you sir? ". Tinham ali mesmo ao lado o ovo da serpente e nunca desconfiaram de nada. Foi uma desatenção imperdoável que viria a tornar-se fatal. O que acabo de dizer não é novidade para ninguém, mas o que se segue pode explicar muita coisa sobre a falta de perspicácia daqueles vizinhos que tinham obrigação de estarem mais atentos, dadas as circunstâncias e os alertas há muito difundidos. Não havia desculpa, mas depois de muito matutar fez-se luz no meu espírito - a culpa só podia ser do Zé Tuga que emigrou da sua aldeia em Portugal em busca de melhor vida em terras inglesas. Passou por várias vicissitudes até que a vida melhorou e o nosso amigo acabou por alugar uma casita nos subúrbios de Londres, com um pedacinho de terra nas traseiras. Arranjou ferramentas e nos tempos livres começou a tratar do quintal. Enquanto os vizinhos ingleses tratavam do seu jardim ornamentado com petúnias, gerbérias e gardénias, o Zé Tuga martelava pedaços de madeira e ligava tiras de rede até que orgulhosamente conseguiu erguer a inevitável capoeira para acolher os galináceos porque não é pelo facto de se estar em terra de "bifes" que se vai abdicar do franguinho caseiro. Nos canteiros, em vez das petúnias, gerbérias e gardénias, o Zé Tuga fez germinar viçosas alfaces e robustas couves de pé alto. Os vizinhos torceram o nariz ao quintal do Zé Tuga. Estragava a paisagem e, se as alfaces e as couves não eram bem-vindas, a capoeira então, era demais e, ainda por cima, aquele galo que se fazia ouvir todos os dias de madrugada! Até que um dia, surpresa das surpresas, o malfadado galo deixou de cantar. O casal Smith ( em Inglaterra há sempre um casal Smith por perto ) reforçou a sua vigilância sobre o quintal do Zé Tuga até que descobriu, com horror, que ele degolava os galináceos, deixando à "patroa" a incumbência de os depenar vigorosamente dentro de um alguidar cheio de água a ferver. Era demais. O casal Smith não podia tolerar que o seu harmonioso jardinzinho de petúnias, gerbérias e gardénias fosse conspurcado por aqueles odores a sangue e penas chamuscadas que vinham do outro lado da cerca. Deu parte à polícia e o Zé Tuga passou um dia na esquadra onde lhe foi explicado que em terras de Sua Majestade não era permitido degolar animais no quintal e se queria comer frango, teria de o comprar no super-mercado já morto e depenado. Para poder voltar a casa, o nosso amigo Zé disse que sim a tudo, mas no seu íntimo já engendrara uma forma de contornar aquela lei absurda - se não podia degolar os galináceos no quintal, iria fazê-lo dentro de casa, longe dos olhares intrometidos dos vizinhos. E assim passou a ser. O casal Smith continuou de olho à espreita, mas em vão porque no quintal do Zé Tuga nem uma pena se conseguia avistar mais. Os vizinhos desinteressaram-se do assunto e, embora continuassem a olhar sobranceiramente para as alfaces e as couves, deixaram em paz o quintal bem amanhadinho do nosso Zé. Mas era tarde demais porque, entretanto, haviam descurado os vizinhos do outro lado, os tais que pareciam muito integrados no " british way of life ", que não tinham couves nem galináceos no quintal, mas que sub-repticiamente iam carregando os materiais explosivos para dentro de casa. E foi assim, ingénua e involuntáriamente, ao desviar para si as atenções do casal Smith, que o singelo quintal do Zé Tuga acabou por contribuir para os atentados de Londres.

PS. Não acreditem em nada do que eu escrevi porque, à excepção dos atentados, é tudo mentira.
publicado por mmfmatos às 18:32
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Terça-feira, 19 de Julho de 2005

A BURLONA DO CHICHI

Os burlões são irritantes, desprezíveis e, sem dúvida, suscitam em nós sentimentos de repulsa e de revolta, mas que têm imaginação, lá isso têm! O vizinho de uns amigos meus foi há dias vítima de um assalto muito peculiar. Bateu-lhe à porta uma mulher torcendo-se e retorcendo-se com aqueles tiques de quem está mesmo " à rasquinha para mijar " e pediu ao velhote autorização para utilizar a casa de banho porque estava " muito... muito... aflitinha ". Caridoso e impregnado de boa-fé, o vizinho dos meus amigos não hesitou e deixou entrar a mulher apontando-lhe a porta da casa de banho ao fundo do corredor. Depois foi para a sala, sentou-se e aguardou calmamente que a intrusa acabasse de verter águas. Sem desconfiar que se tratava de uma vigarista, não quis aguardar no corredor porque, como ele próprio afirmou: "Como se tratava de uma senhora, não lhe parecia correcto ficar no corredor à espera que ela saísse da casa de banho ". Esperou, esperou e, estranhando a demora, resolveu deixar o aconchego do seu cadeirão para ver o que se passava. E o que se passava era que a mulher, em vez de aliviar a bexiga, ocupara o tempo a esvaziar as gavetas do quarto onde o incauto e benemérito velhote guardava os seus haveres e, terminado o " trabalho ", saíra porta fora sem que ele desse por isso.
Os estratagemas dos burlões ultrapassam tudo o que possamos imaginar e até os mais atentos são, por vezes, apanhados desprevenidos. Por isso, aqui fica o alerta - não partilhem a vossa sanita com qualquer pessoa, mesmo que essa pessoa seja uma jovem " muito...muito...aflitinha ".
publicado por mmfmatos às 11:54
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Terça-feira, 12 de Julho de 2005

ARRASTÃO-SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO

Afinal de contas, o que é que se passou em Carcavelos? Primeiro havia um arrastão com 500 "mânfios" que se prontificaram a palmar tudo o que lhes apareceu pela frente desde as modestas toalhas e sacos de ráfia aos telemóveis topo de gama, anéis da Gucci e relógios da Cartier. Na altura, achei logo que o número 500 era demasiado preciso e demasiado elevado para um país tão pequeno e com tão baixas expectativas. Quando li algures sobre o indivíduo a quem tentaram roubar o anel da Gucci e o relógio da Cartier, perguntei a mim própria se seria possível, mesmo num país onde a ostentação emparelha com a ignorância, alguém ir a banhos com tais sinais exteriores de riqueza. Era tudo muito estranho e a história foi mal contada, mas, por outro lado, virem agora tentar convencer-nos de que tudo não passou de um mal-entendido e que a polícia fez o comunicado com base na informação de um polícia bronco ( o bronco é da minha autoria ) que " não soube consubstanciar exactamente o que tinha acontecido " ( declarações do Comandante da PSP Oliveira Pereira à jornalista ou ex-jornalista Diana Andringa ), visto que afinal tudo começou com uma briga entre um casal .... ter-se-á gerado uma certa confusão ... . haveria uns 30 ou 40 indivíduos que começaram a ser perseguidos pela polícia ( no meio da correria lá deverão ter palmado umas toalhitas rafeirosas )! Assim também não. Mesmo para os menos dotados de massa encefálica, a história continua a estar mal contada. Não houve nada, ninguém viu nada, ninguém roubou nada a ninguém e a prova está aí, inegável e irrefutável - não houve uma única alma que se sentisse lesada ao ponto de apresentar queixa na polícia. Foi esta a conclusão - não houve queixas, logo não houve assaltos. Tudo está bem no melhor dos mundos que é este nosso cantinho à beira-mar plantado e podemos dormir descansados porque os marginais estão todos na outra parte do mundo, bem longe deste Reino das Maravilhas onde nada acontece, ou só acontece vagamente, ou quase esteve para acontecer. Moral da história: Se alguém tem culpa disto tudo, é o tal casal que não tinha nada que ir discutir para a praia, portanto, xadrez com ele para não voltar a incomodar quem pacificamente não aspira mais do que passar um dia agradável a gozar os prazeres do sol e do mar que, por enquanto, não pagam imposto.
publicado por mmfmatos às 22:25
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Segunda-feira, 11 de Julho de 2005

A ILHA DAS BANANAS

O articulista António Fontes do semanário Tribuna da Madeira teve a veleidade de escrever um artigo intitulado O Garotinho da Quinta onde foram usadas expressões consideradas, pelo Tribunal Criminal da Madeira, como sendo ofensivas e difamatórias para Alberto João Jardim. Até a expressão Garotinho da Quinta foi considerada " muito ofensiva " pelo referido Tribunal. Pela ousadia foi condenado a pagar uma indemnização de 2 500 euros. Não li o artigo, mas por aquilo que veio transcrito no jornal Público, as expressões utilizadas estão a anos-luz dos " bastardos e filhos da puta " com que o "Faraó da Madeira" mimoseou os jornalistas cá do "contnente". E é caso para perguntar: " Quanto é que ele vai ter de pagar aos jornalistas ofendidos e às suas difamadas mães? ". Já é tempo de alguém responsável dizer: " Ou o menino se porta bem ou cortamos-lhe a mesada e vai ter de se governar com as bananas e os abacaxis da sua ilha ".

publicado por mmfmatos às 16:35
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