Quarta-feira, 30 de Novembro de 2005
Afinal a televisão sempre nos transmite alguns conhecimentos. Se assim não fosse, eu não saberia agora que existe em Portugal uma terra chamada Ranhados algures perto de Mêda. Ora a população dessa terra com o incrível nome de Ranhados, levantou-se em peso e sequestrou o padre que ficou preso na sacristia, bem guardado pelos seus paroquianos, revoltados com a decisão do Bispo de Lamego que havia ordenado a transferência do padre para outra paróquia. Irados com a situação, os ranhadenses (talvez seja este o nome dos habitantes de Ranhados, se não for também não faz mal) juraram a pés juntos que o seu adorado pároco não sairia dali enquanto o Bispo não alterasse a decisão que tomara porque diziam eles: "O Sr. padre não sei quantos (não fixei o nome) não sai daqui, ele é nosso, nós gostamos muito dele e não queremos cá outro". Fiquei estupefacta e perplexa. Então aquela boa gente faz um levantamento popular porque alguém decidiu mudar o padre quando o que deveriam exigir urgentemente era a mudança do nome da terra! Isso sim, era inadiável e imprescindível. Ninguém com um mínimo de bom senso se pode sentir confortável numa terra chamada Ranhados. Deixo aqui o meu apelo - Sr. Primeiro Ministro já que está em maré de mudanças para nos aproximar dos outros países europeus, acrescente mais uma página ao tal plano tecnológico de 400 páginas (uma a mais não faz grande diferença) e mude o nome da terra. Pode parecer um pormenor sem importância, mas não é. Como é possível que uma terra chamada Ranhados possa alguma vez dar o salto para a modernidade? Talvez os ranhadenses não aceitem de bom grado esta mudança quando, ainda por cima, estão tão revoltados com a mudança do padre, mas o Sr. Primeiro Ministro, com a fogosidade a que nos tem habituado, saberá explicar-lhes que será mais um sacrifício em prol do choque tecnológico.
Não sei se o plano arranca ou não arranca, nós cá estaremos para ver, mas entretanto, peço-lhe encarecidamente -
mude o nome à terra
Domingo, 20 de Novembro de 2005
Calem-se as línguas viperinas e os profetas da desgraça que ainda tinham dúvidas sobre a implementação das medidas e já andavam a lançar atoardas afirmando que era mais uma promessa do Governo Sócrates não cumprida. O arranque do choque tecnológico já aí está - A demissão em bloco de sete dos dez elementos da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (UCTP) após a demissão do próprio coordenador que entrou em choque com o Ministro da Economia. Alguém poderá imaginar melhor forma de arrancar com o plano tecnológico? Estes já entraram em choque com o Ministro, foi o que poderemos chamar um choque em cadeia. Alegrem-se porque outros choques virão.
Quinta-feira, 17 de Novembro de 2005
Chove lá fora, mas há sol nos nossos corações porque o Primeiro Ministro deu um ar da sua graça e revelou o segredo para que possamos avançar com o plano tecnológico, basta seguir o paradigma da Alice no País das Maravilhas e tudo correrá bem. Era mesmo disto que estavos a precisar - uma história de encantar.
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2005
Ao longo destes dias temos assistido a foruns e debates em que, do alto da sua cátedra, cada um se arma em grande conhecedor do fenómeno quando, no fundo, ninguém conhece as motivações nem quem estará por trás dos actos de puro vandalismo e de uma violência inaceitável. Resumindo tudo o que se tem ouvido, acabam todos por dizer o mesmo:
"São jovens desenraizados, vítimas da exclusão social que resolveram gritar a sua raiva e demonstrar a sua revolta perante o país onde nasceram e onde não se sentem integrados ". Isto é o que todos dizem, fazendo eco, certamente, daquilo que já leram e ouviram na impensa e nos canais televisivos de outros países.
Todos são unânimes em dizer que a França falhou no seu modelo de integração. Uns alvitram que o modelo inglês é o melhor, outros elogiam o modelo americano, mas uma coisa é certa, as bombas vão rebentando por todo o lado e eu pergunto:
"Será que os bombistas, os incendiários e quem os manipula estão realmente interessados em qualquer tipo de integração?". Não me parece. Há ainda aqueles que clamam ingenuamente:
" É preciso dialogar, não se responde à violência com mais violência". Até certo ponto, a ideia até é bonita, utópica, mas bonita, mas aqui põe-se outra questão
DIALOGAR COM QUEM?
Quinta-feira, 3 de Novembro de 2005